sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Arte da Palavra



A palavra é uma arma acessível a qualquer homem. Independente de credo, raça, sexo ou condição social. Sua onipotência existe desde o que chamamos de história e resiste firme e forte, até os dias atuais. Foi fundamentalmente em momentos críticos da história conhecida e contada pelo homem, mudou rumos, criou verdades e mentiras, imortalizou deuses e heróis como enterrou vilões e covardes. Foi à palavra que informou e manipulou o homem, com o passar dos séculos.  E ainda engana. É uma arma poderosa, estridente. Completo afirmando que é uma arma acessível a qualquer homem desde que o mesmo aceite o hercúleo desafio de manuseá-la, domina-la. Poucos se dedicam a esse árduo, mas proveitoso, trabalho. A palavra é tão poderosa que, com um simples disparo, pode destruir um ser. Aniquilar para sempre qualquer um que duvide de seu poder. Nada de quebrar ossos, deixar hematomas ou dilacerar a pele. Seu poder é maior. Invade o corpo e atinge a mente. A alma. Transforma o pobre ser, vitima do disparo, em homem-zumbi incapaz de se reerguer perante a sociedade e as futuras gerações.

Quem faz historia são as pessoas que a escrevem (talvez a seu bel-prazer, já que a historia é escrita pelos vencedores); que documentam os fatos. A arte da palavra faz com que conheçamos interpretações do nosso passado. Ter história. Verdadeira ou não, mas ter história. Sem a palavra escrita, documentada, o passado seria uma incógnita. E o presente, primitivo. Já que aprendemos com os erros dos nossos ancestrais para evoluir. E evoluímos, seja na ciência, espírito, ou comportamento social, graças aos antepassados.

A palavra é arte, de onde deriva a literatura, outra arte. Ai entram em cena os escritores e oradores.   É evidente que ao falar-se de literatura, não se pode considerar nem a fala usual, nem a escrita corriqueira. A literatura é a arte de criar beleza por meio da palavra, como diria Helio Sodré – autor do celebre “História universal da eloquência”.

Se a palavra escrita fica eternizada em livros e um grande número de pessoas pode ter acesso, a palavra falada é a mais poderosa. “O estudo dos livros é uma atividade fraca e repousada que não entusiasma, ao passo que a discussão ensina e exercita ao mesmo tempo”, disse Montaigne. A eloquência lida com a voz e com os gestos. Por isso é a mais viva e a mais mortal das artes.  A mais viva porque é palavra, voz e gesto. Quando bem usada empolga multidões. A mais mortal porque os oradores levam consigo, para o túmulo, dois dos seus requisitos primordiais: a voz e o gesto. Mas que importa que a eloquência é a mais mortal das artes se, quando em ação, nenhuma outra consegue sobrepuja-la?

Toda arte sugere, comunica, convida. Mas, a eloquência impõe. O efeito das outras artes é lento, o da oratória imediato. Um livro age vagarosamente; a eloquência, vertiginosamente. Usando mais uma vez as brilhantes palavras de Hélio Sodré: “Um livro – palavra escrita – pode gerar uma revolução. Mas a eloquência – palavra falada – pode desencadear a revolução”. E isso porque a eloquência não se satisfaz, apenas em expressar um sentimento ou traduzir uma ideia. Seus objetivos são maiores. Além de expressar, aspira convencer e persuadir. O orador perfeito deve reunir em si, não só as qualidades de filósofo, mas também as do poeta e as do ator. Poeta, para deleitar e comover, falando ao coração e ao sentimento. Filósofo, para instruir e convencer, falando à razão e ao entendimento. E ator, para dar vida e vigor às suas palavras.

É quase impossível não admirar um discurso eloquente. Cometendo o sacrilégio de “tomar as palavras emprestadas”, exemplifico com o belo discurso de Caio Graco – notável tributo da Roma Antiga – que antes de defender uma causa perdida, ganhou o público com sábias palavras: “Cidadãos, se sois inteligentes e honestos, não encontrareis, entre nós, um único que fale sem esperança de recompensa. Todos os oradores querem conseguir qualquer coisa. Eu próprio, que vos falo, e falo para acautelar os vossos interesses e aumentar os vossos rendimentos, também não o faço desinteressadamente. Simplesmente, não espero de vós dinheiro, mas sim atenção e aplauso!”. Só para constar, Caio Graco – jovem orador romano, em um dos seus primeiros discursos – ganhou a causa. Talvez tenha se saído muito bem ter feito uma boa introdução. Ganhou o respeito dos concidadãos, e se sentiu a vontade no tribunal.

Para finalizar esse breve elogio à palavra, cito Victor Hugo: “Uma palavra caída de uma tribuna cria sempre raízes em alguma parte. Dizeis: não é nada, é um homem que fala. Encolheis os ombros. Espíritos de curto alcance! Dizeis que não é nada e é um futuro que germina, é um mundo que desabrocha!”

Rafael Calheiros
Resenha do livro História Universal da Eloquência de Hélio Sodré.
Publicado em 16 de agosto de 2007.     

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Ciranda Infantil em Ibicuã - Piquet Carneiro

O Distrito de Ibicuã Município de Piquet Carneiro realizou durante os dias 04,05 e 06 de janeiro de 2013 sua Primeira Festa dos Filhos e Amigos de Ibicuã. E a convite da idealizadora do evento Edna Martiniano a AVAL marcou presença.


Os Cirandeiros Walter Cleber e Messias Pinheiro realizaram uma contação da Fábula "O Cavalo e o Burro" de Monteiro Lobato na manhã do dia 06 (domingo) para um público de 30 crianças, objetivando refletir dentro do mundo infantil a importância da cidadania no processo de humanização.




Além da contação de história  foi distribuído para as crianças pirulitos e livros infantis. Usar a criatividade para despertar o desejo pela leitura deve ser um compromisso de cada cidadão que acredita e busca um novo amanhã.


Associação dos Voluntários da Arte e Leitura, unindo-se a outras mãos para construir relações fraternas e solidarias. 


" O futuro não é um lugar onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído e o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quanto o destino."
Antoine de Saint-Exupery

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

AVAL realiza I Ciranda Literária de Acopiara





“O corpo é um caminho: ponte, e neste
efêmero abraço busco transpor o abismo.”
(Thiago de Mello).

Na data que os Maias afirmavam ser o fim do mundo. Na terra do lavrador em meio ao sertão nordestino. Na casa dos servidores públicos municipais de Acopiara, chão de organização politica da classe trabalhadora.Após o por do sol, banhados pelas gotas de água que caíram do céu iniciando um novo ciclo vital, aconteceu a I Ciranda Literária de Acopiara com o tema: “Viajando no mundo poético de Thiago de Mello”.

Por volta das 19 horas e 30 minutos, o cirandeiro Messias Pinheiro acolheu os participantes, e iniciou o momento místico, onde de mão em mão passou-se uma vela simbolizando a chama do saber, a busca constante pelo conhecimento e evolução humana.

Logo após, o cirandeiro Walter Cleber falou sobre a biografia do autor e recitou:“cordel para Thiago de Mello” de Gustavo Dourado. A cirandeira Maidê Ferreira relatou sobre a importância da literatura para a vida, contextualizando com o cotidiano na ótica popular.

Os participantes foram motivados a contemplar os textos espalhados pelo chão, a partir da escolha de leitura recitaram os poemas do mesmo. Em seguida receberam o texto: “poesia: a verdade da vida”também de Thiago, o qual foi lido de maneira coletiva. Em uma roda de conversa partilharam os aspectos reflexivos encontrados nas obras,a maneira do autor ver o mundo, intertextualizando-os com suas próprias vivencias.

Assim como afirma o poeta“Como sei pouco, e sou pouco, faço o pouco que me cabe me dando inteiro.” A primeira ciranda literária foi concluída com aplausos aos sujeitos que se fizeram presentes. Pois, “É tempo sobretudo de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos. Se trata de ir ao encontro. (Dura no peito, arde  límpida verdade dos nossos erros). Se trata de abrir o rumo”(Para os que virão- Thiago de Mello).


Acopiara, 23 de dezembro de 2012.
Walter Cleber, Messias Pinheiro e Maidê Ferreira.

Comentários:

Foi belíssimo, achei muito interessante pois a cultura nos enriquece em conhecimento, nos tornando mais conscientes
(Adriana Inacio – Pedagoga e Coordenadora da PJMP)
A ciranda foi importante porque passamos a conhecer novos autores e novas culturas
(Alice Rodrigues - Estudante do curso técnico em enfermagem da E.E.E.P. Alfredo Nunes de Melo)

A AVAL está de parabéns por realizar a I ciranda literária com intuito de incentivar cada vez mais a leitura no nosso município, que é de suma importância para o crescimento do indivíduo. Através de suas cirandas AVAL apresenta obras de autores renomados nacionalmente e internacionalmente” 
(Adailton Melo – Ator e educador no Programa Segundo Tempo)



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Carta Pedagógica do I Encontro Estadual das Juventudes Recid Ceará

“É esta a nossa hora e o tempo é pra nós.
Que chegue em todo o canto a nossa voz
Miremos bem no espelho da memória.
Faremos jovem linda a nossa história...”
(Zé Vicente)

“O mais viável é nos referirmos à unidade do diverso da juventude, ou seja, juventudes em movimento.” (Roberta Transpadini)


Estimados(as) Companheiros(as),

Vivemos tempos urgentes. Os últimos anos têm nos revelado e imprimido profundas transformações de cunho social, econômico e cultural, o que afeta, de forma direta e incisiva, a nossa rotina e relações sociais.
Diante de tal leitura, as inquietações e indignações nos impele a lutar em busca da efetivação de um modelo anticapitalista e contra-hegemônico, que para nós, movimentos sociais e populares articulados em rede, se configura e toma corpo num Projeto Popular de Nação.

Para que esse projeto tome corpo, se materialize em ações concretas e cotidianas, precisamos de ousadia e entusiasmo. Precisamos ler e querer este mundo sob a óptica de um/a revolucionário/a. E, quando falamos em inquietação, indignação, entusiasmo, ousadia e mudança revolucionária, estamos falando diretamente da juventude, ou melhor das “juventudes”. Já foi-se o tempo de achar que somos ou seremos o futuro, somos o hoje e o agora. Somos a mudança necessária que vai na contramão das mazelas cotidianas. Não somos, ao contrário do rótulo que nos apregoaram, rebeldes sem causa ou massa amorfa e sem efeito.

Foi com esse pensamento e no intuito de construir e efetivar um diálogo comprometido sobre nossas causas e em fortalecimento às ações relacionadas ao I Encontro Nacional de Juventudes da Recid, que nós, juventudes dos movimentos sociais e populares, realizamos nos dias 07 e 08 de dezembro de 2012, o nosso, também I Encontro Estadual das Juventudes da Recid Ceará, em reconhecimento aos nossos acúmulo e demandas.

Sob os mesmos tema e lema do encontro nacional - Tema: “Juventude e Poder Popular” e Lema: “A juventude construindo a manhã desejada”, que nos conhecemos enquanto turma e percebemos que, embora trilhando caminhos diferentes e com formas diferentes de caminhar, queremos chegar ao mesmo lugar, que é uma nação soberana com o povo consciente, autônomo, livre de qualquer forma de privação, pleno em direitos.

Nossa conversa foi calorosa. Afinamos idéias, nos “alfinetamos”, no sentido de nos auto-provocar e inquietar-se, e isso não nos segregou, ao contrário, nos aproximou e nos estimulou a querer conhecer melhor o outro e dar mais “movimento” a Rede.

Quais são os nossos principais problemas? Em quais lutas militamos? O que entendemos e já fazemos na perspectiva da construção do projeto que queremos? Estas foram algumas questões que nos motivaram durante todo o encontro.

Estamos muito animados. Empenhamos esperança e sinergia nos nossos encaminhamentos, mais ainda, construímos laços, que serão bem mais fortalecidos e estreitados a partir de agora, desta hora onde resolvemos nos somar rumo a algo macro, sem, no entanto, perder de vista quem está do nosso lado, de onde vimos, onde estamos e contra quem lutamos. Não somos ingênuos em pensar que será fácil, mas nos sentimos mais fortes, empoderados da força do Outro que soma e flui em rede. Já somos um Coletivo.

Em diálogo com uma jovem autora e também militante das causas sociais e populares, nos sentimos e evidenciamos como protagonista da formação consciente, como ser e sujeito histórico do nosso tempo, como ser social e que temos consciência de classe.

Encerramos nosso anúncio evidenciando que “diferenças cedem espaço à diversidade em unidade e as experiências conformam um quadro comum neste mosaico de cores, flores, pedras, territórios específicos dentro de um modelo de desenvolvimento geral. Que o popular vira palco da territorialidade do poder, cujo protagonismo compartilhado vai, pouco a pouco, superando as classificações e criando um novo arranjo de sociedade em cujo poder popular dê unidade ao diverso, harmonize as particularidades no todo do projeto de classe, efetive a inclusão real deste grupo na tomada de decisão rumo à implementação da sociedade que se quer”.

Foi esse o sentimento de pertença e crença naquilo que fazemos, enquanto classe, enquanto juventudes, enquanto lutadores/as rumo a construção de uma nova era, de um novo mundo, que já se tinha começado, mas que agora o assumimos enquanto Juventudes organizadas na Recid Ceará!

Gt de Comunicação da Recid Ceará

Mundo


Ainda não é o fim



Ainda não é o fim. É bom andar,
mesmo de pernas bambas. Entre os álamos,
no vento anoitecido, ouço de novo
(com os mesmos ouvidos que escutaram
“Mata aqui mesmo?”) um riso de menina.
Estou quase canção, não vou morrer
agora, de mim mesmo, mal livrado
de recente e total morte de fogo.
A vida me reclama: a moça nua
me chama da janela, e nunca mais
e lembrarei sequer dos olhos dela.
Posso seguir andando como um homem
entre rosas e pombos e cabelos
que em prazo certo me devolverão
ao sonho que me queima o coração.
Muito perdi, mas amo o que sobrou.
Alguma dor, pungindo cristalina,
alguma estrela, um rosto de campina.
Com o que sobrou, avanço, devagar.
Se avançar é saber, lâmina ardendo
na flor do cerebelo, porque foi
que a alegria, a alegria começando
a se abrir, de repente teve fim.
Mas que avançar no chão ferido seja
também saber o que fazer de mim.

Thiago de Mello

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Arte literária como instrumento de transformação social e intelectual



Ao analisarmos o nascimento de uma criança, podemos perceber que ela não traz consigo um léxico inalterável de conhecimento. Com o seu desenvolvimento físico e psíquico surge à produção de diversos hábitos, entre eles o de ler. Leitura aqui compreendida não como codificação a decifrar, mas sim como uma habilidade de interpretação da linguagem verbal humana, onde o leitor interage simultaneamente com o texto e o autor.

Segundo Augusto Boal pensar é sobre tudo sentir e que só a sensibilidade nos faz saber que existimos. Com práticas literárias, estimulamos a nossa sensibilidade, questionamos a realidade, buscamos ter opinião própria e compreensão dos discursos e tudo que se encontra a sua volta.

Estimular o sistema cognitivo de um ser é indicar caminhos para o protagonismo pessoal, libertação de paradigmas e construção de voz ativa diante do sistema opressor, excludente e desigual, como também incitar a tomada de posicionamento enquanto sujeito de sua própria história.

Messias Pinheiro